"The morning will come again. No darkness, no season is eternal" - 10 músicas por BTS
Cada vez mais populares internacionalmente,
BTS, a banda de k-pop composta por 7 membros, ultrapassou as barreiras de
língua e cultura com o poder da sua música. Embora sejam o produto da indústria
musical da Coreia do Sul, o grupo não corresponde ao estereótipo de artista
coletivo coreano, abordando assuntos como as injustiças e problemas sociais e
a saúde mental, focando-se na sua experiência pessoal e no impacto que estas
pressões e dificuldades têm nos jovens.
Assim, decidi eleger 10 músicas que
exemplificam a exploração das temáticas da complexidade do “eu” e do amor a
próprio, entre outras.
1. Sea
Apresenta-se uma reflexão sobre a
necessidade de desespero para a existência de esperança, sendo utilizada uma
analogia em que o percurso da banda é representado enquanto um deserto que se
transformou num mar, através de esforço e trabalho. Assim, a música constitui
uma mensagem que invoca valores como a perseverança e destaca a importância de
acreditar no cumprimento de um sonho.
Contudo, o sucesso não elimina os
momentos mais negativos, sendo, por isso, fulcral aceitá-los enquanto parte da
experiência que é viver. Sem tristeza, não há felicidade e sem trabalho, não se
alcança o tão desejado “mar” de sucesso.
“In the end, we reached the mirage and it
became our reality/ The scary desert became the ocean with our blood, sweat and
tears.”.
2. Not Today
Numa atitude de perseverança e
quase de desafio face aos obstáculos, o grupo cria uma canção simbolizadora do
esforço e dedicação apresentados ao longo da procura do triunfo. “Not Today”
constitui um guia para a forma como os problemas e dificuldades devem ser
encarados, revelando-se uma motivação para lutar contra as adversidades da vida
e tornar o espírito mais forte.
"Run if you can't fly, today we will
survive/walk if you can't run, today we will survive/crawl if you can't
walk...".
3. Whalien 52
Numa mensagem mais direcionada
aos jovens, BTS reflete sobre a solidão, referenciando no título uma espécie de
baleias popularmente conhecida como “a baleia mais solitária”, tendo em conta a
frequência inaudível do som que transmitem.
Comparando-se com este animal, os
membros afirmam o seu desejo de serem ouvidos, perguntando-se se alguma vez
irão receber uma resposta do outro lado ou se a solidão será para sempre.
O jovem luta para adquirir uma
voz numa sociedade em que o seu valor é subestimado, mas é sonhando e
continuando a lutar que se torna visível e é acreditando nas suas capacidades
que a pessoa alcança a tão esperada resposta às palavras que canta.
“The fact that no matter how much they shout,
it won’t reach/ Makes them so gravely lonely that they quietly shut their
mouths”.
4. The Truth Untold
Inspirando-se na história “Smeraldo
Flower”, é retratada a vulnerabilidade do ser humano e a incapacidade de este
se abrir perante outros, permanecendo parte de si mesmo eternamente escondida.
Através de uma letra sentimental,
a banda cria uma narrativa com as suas palavras e sentimentos sobre o
verdadeiro significado de vulnerabilidade enquanto obstáculo para a vida coletiva
e individual, concluindo que mesmo amando o outro se não sentirmos o mesmo em
relação a nós e continuarmos a esconder o que somos por detrás de uma máscara
de ilusão e mentira, ficaremos sozinhos.
“You know that I can’t/ Show you me/ Give you
me/ I can’t show you a ruined part of myself/ Once again I put a mask on and go
to see you”.
(Link para a história “Smeraldo
Flower”: https://medium.com/@indrachapa/legend-of-the-smeraldo-flower-d0e689b167af
)
5. Epiphany
Numa nota de amor próprio,
característica do álbum “Love Yourself”, Jin, um dos vocalistas, apresenta uma
música em que se reflete novamente sobre a importância de gostar de si mesmo,
perfeições e imperfeições, qualidades e defeitos.
Parecendo iniciar-se como uma canção
sobre um coração partido, a melodia transporta-nos para uma viagem de aprendizagem
sobre amar-nos, descrevendo a solidão ao percorrer esse caminho, mas
concluindo, por fim, quão recompensadora é, realmente, a aceitação própria do “eu”
enquanto um ser imperfeito, mas belo.
“I’m the one I should love in this world/ Shining
me, precious soul of mine/ I finally realized so I love me/ Not so perfect but
so beautiful/ I’m the one I should love”.
6. So far away
Música composta por Suga, a letra
descreve a experiência pessoal do autor numa espiral de desespero, causada pela
depressão por que passou. Revelando tudo o que sente, o membro da banda coreana
procura uma saída da escuridão em que se encontra através do sonho.
No entanto, todo o desespero
permanece, não sendo capaz de descobrir esse refúgio que seria sonhar, o que
leva ao distanciamento dos outros e à sensação de perda constante (I try to
vent out my anger but the only one here with me is me/ So what’s the point of
venting?/ Every
morning, it's terrifying to open my eyes,(It's terrifying) to breath”).
A canção parece ser finalizada sem
solução para aquilo que é descrito, mas, na verdade, acaba com o ensinamento de
que embora um futuro próspero esteja distante, este existe e há esperança numa
felicidade vindoura.
Suga relata o caminho que
percorreu e continua a caminhar no sentido de ser feliz, de sonhar, inspirando
os ouvintes a não desistir mesmo quando o percurso pareça impossível de
prosseguir.
“You will fully bloom after all the hardships/ Though
your beginnings may be humble, may the end be prosperous”.
7. Intro: Persona
Com a primeira música do álbum “Map
of the Soul: Persona”, o grupo apresenta uma interpretação do termo Persona,
enquanto aquilo que o ser humano permite o público ver de si mesmo, imagem
muitas vezes diferenciada da sua realidade interior.
Assim, o álbum por inteiro revela
uma perspetiva sobre a Psicologia. Contudo, parece-me relevante, desde mais, referir
aquela que inicia o conjunto de canções da composição musical. “Persona”
constitui uma introdução aos temas que irão ser explorados pela banda,
centrando-se na procura de uma identidade.
Ao longo da letra, é transmitida
uma ideia de frustração na busca pelo verdadeiro “eu”, ainda que outros percecionem
a sua vida como bem-sucedida. Dá-se o questionamento sobre a diferença entre o
aparente e o real.
Deve-se também ter em conta que a
criação do álbum foi inspirada num livro acerca de Carl Jung, psiquiatra, psicoterapeuta
e “pai” da Psicologia Analítica, sendo as suas teorias claramente referenciadas
ao longo da experiência musical que é “Map of the Soul”.
“Who am I? The question I had my whole life/ Who
am I? The question which I probably won't find the answer to my whole life”.
8. HOME
Também pertencente a “Map of the
Soul: Persona”, esta música apresenta uma mensagem diferente da anteriormente
mencionada, mas, ainda assim, extremamente relacionada com a complexidade da
personalidade do ser humano.
Em “HOME”, o grupo reflete sobre
a importância de um refúgio após a fama e o impacto que voltar a “casa” tem na
pessoa, quer seja pelo sentimento de familiaridade, quer pela necessidade de
escape de um mundo exterior em que apenas contam as aparências, sendo eliminada
a possibilidade de genuinidade.
A par desta interpretação, acredita-se
também que esta “casa” é símbolo dos fãs que tornaram possível alcançar a fama
e com quem os membros conseguem ser autênticos.
“The more I think together, the more alone I
think/ Half-wrapped eyes, sleepless nights/ Where you are”.
9. Mikrokosmos
Embora não seja mencionada tanto
a psique, mas sim a importância do ser humano enquanto indivíduo, decidi
referenciar esta canção pelo impacto que pode provocar no ouvinte. Ao ouvir “Mikrokosmos”,
apercebemo-nos da magnitude que a nossa vida pode ter nas vivências de outros.
Esta música permitiu à banda
agradecer aos que acreditam neles e aos que os auxiliaram no percurso de
estrelato. A ideia de união contrastando com a solidão descrita noutras das
suas melodias, prevalece nesta composição e, tal como transparece pelo título,
conclui-se que todos fazemos parte do mesmo mundo, estando, por isso,
interligados. Na verdade, somos todos luzes neste universo.
Numa nota mais romântica, a
canção pode representar uma declaração de amor ao afirmar que, não obstante
existirem biliões de pessoas no mundo, há duas luzes que brilham em conjunto e
nada se compara à singularidade daquele que se ama.
“Where people are light/ Where people are stars/
In this place full of where/ People are lights/ We shinin'”.
10. Spring Day
Finalizo, assim, a lista como uma
música que, a meu ver, é, também, uma conclusão de uma Era para a banda. “Spring
Day” aparenta, à primeira vista, ser apenas uma canção sobre amizade e o
falhanço dessa relação. Contudo, o seu significado vai além desta
interpretação.
De facto, os membros cantam sobre
ter saudades de alguém com quem um relacionamento terminou, transparecendo
sentimentos de melancolia. Porém, por detrás dessa perda encontra-se uma
sensação de paz e esperança.
Através de uma analogia com o
Inverno, contam a história de um “eu” que se afastou de um grupo de amigos e
anseia para que se voltem a encontrar. Numa reflexão sobre a mudança da pessoa
e o impacto que tal tem nas vivências com outros, pondera-se se a melhor opção
é esquecer ou continuar a acreditar na amizade, o que cria um momento de
esperança na composição.
A música termina com a “chegada
da Primavera”, após os tempos difíceis. Esta comparação cria uma ponte de
ligação com a mensagem que o grupo pretende que seja captada: nada dura para
sempre, nem a solidão nem a felicidade, e essa é a beleza da vida, as estações
mudam, mas há sempre um novo ciclo à espera para começar.
“Passing by the edge of the cold winter/ Until
the days of spring/ Until the days of flower blossoms/ Please stay, please stay
there a little longer”.
Comentários
Enviar um comentário